Neste artigo, tentarei apresentar
brevemente uma visão geral de todas as doações que um israelita fiel que possuísse terras (colheitas e gado) faria na época em que o Templo em Jerusalém estava em
pé. As ofertas serão detalhadas e seguidas por versículos bíblicos/citações
rabínicas para que se confira o que está sendo dito. Claro que queremos
responder à pergunta que milhares de pessoas fazem todos os dias: afinal de
contas, qual era o dízimo de que Malaquias falava? Quem não dá dez por cento de
seu salário a um líder religioso hoje estaria em pecado?
Não há dúvida sobre que os versículos da Torá
citados se referem às práticas enumeradas¹. No entanto, a Torá não dá às
ofertas os nomes (exemplo: Ma`asser richon ²— primeiro dízimo).
Para organizarmos as doações de acordo com os nomes que recebem na tradição
judaica, recorremos ao Sêfer hamisvot ³. Algumas ofertas, como os
sacrifícios e a pele dos animais queimados em holocaustos, que poderia ser dada
ao sacerdote (descendente de Arão), não foram contadas.
Enumeremos
as ofertas:
Nome da oferta
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Beneficiário
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Referências
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Observações
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Mahassit hachéquel – Meio siclo
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Despesas do santuário
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Ex 30, 13-16
(sêfer hamisvôt, M. 171)
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Esta oferta tinha a finalidade de fazer a contagem do povo. Só é
válida, naturalmente, na existência do Templo de Jerusalém e era anual. Era a única dada por todas as pessoas,
pobres e ricas!
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Terumá guedolá – Grande oferenda
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Sacerdote (descendente de Arão)
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Dt 18, 4
(sêfer hamisvôt, M. 126)
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Era a primeira oferta separada do produto do campo (sêfer hamisvot
P.154). Entre 1/40 e 1/60 da produção
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Ma`assêr richon – Primeiro dízimo
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Levitas (descendentes de Levi)
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Nm 18, 24
(sêfer hamisvôt, M. 127)
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Separado após a Terumá guedolá, dos produtos do campo.
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Ma`assêr cheni – Segundo dízimo
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Contribuinte
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Dt 14, 22 ss
(sêfer hamisvôt, M. 128)
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O próprio contribuinte comia esse dízimo, em Jerusalém apenas. Caso
morasse longe, poderia converter em dinheiro e levá-lo para comprar o que
desejasse.
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Terumat ma`asser – Oferta extraída do dízimo
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Sacerdote (recebe do levita)
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Nm 18, 26
(sêfer hamisvôt, M. 129)
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Dízimo do dízimo, dado pelo levita, após receber o Ma`assêr richon,
ao sacerdote.
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Ma`assêr `ani—Dízimo do pobre
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Pobres
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Dt 14, 28
(sêfer hamisvôt, M. 130)
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Esse dízimo era dado no terceiro e sexto anos no ciclo de sete anos.
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Halá – Oferta de parte das massas
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Sacerdote (descendente de Arão)
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Nm 15, 21
(sêfer hamisvôt, M. 133)
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Só válido na Terra de Israel.
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Neta` reva`i – colheita do quarto ano
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Contribuinte
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Lv 19, 25
(sêfer hamisvôt, M. 119)
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Frutos da colheita do quarto ano no ciclo de sete anos eram levados a
Jerusalém e comidos pelo ofertante.
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Parte de cada animal abatido
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Sacerdote (descendente de Arão)
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Dt 18, 3
(sêfer hamisvôt, M. 143)
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Algumas partes dos animais sacrificados eram direitos dos sacerdotes.
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A primeira tosquia das ovelhas
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Sacerdote (descendente de Arão)
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Dt 18, 4
(sêfer hamisvôt, M. 144)
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Obrigatório somente em Israel
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Ma`assêr behemá – O dízimo do gado
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Contribuinte, após oferecer parte no altar
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Lv 27, 32
(sêfer hamisvôt, M. 78)
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Pela determinação dos sábios, só deve ser dado quando o Templo
estiver em pé.
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`Arakhin/ Haramim –
Avaliações/Coisas consagradas
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Sacerdote (descendente de Arão)
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Lv 27, 11-12; 14; 16; 28
(sêfer hamisvôt, M. 115, 116, 117, 145)
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Havia `Arakhin e Haramim de animais, casas e campos. A pessoa
poderia fazer voluntariamente essas consagrações para o sacerdote ou para
Deus (Templo).
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Pidion haben – Dinheiro do resgate do primogênito
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Sacerdote (descendente de Arão)
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Ex 22, 29
(sêfer hamisvôt,
M. 80)
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Os primogênitos originalmente deveria ser sacerdotes. O resgate é uma
forma de “eximi-los”, através da quantia de cinco moedas.
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Pidion péter hamor – Resgate do primogênito de um
jumento
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Sacerdote (descendente de Arão)
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Ex 34, 20; 13, 13
(sêfer hamisvôt,
M. 81)
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O dono do animal poderia decidir entre matar o jumento ou resgatá-lo,
dando um cordeiro, carneiro ou cabrito ao sacerdote.
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Bicurim – Primícias
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Sacerdote (descendente de Arão)
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Ex 23, 19
(sêfer hamisvôt,
M. 125)
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Só eram separadas as primícias (primeiros frutos) de sete espécies,
de frutas de Israel, Síria e Transjordânia estando o Templo em pé.
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Peá – Canto dos campos
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Pobres
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Lv 19, 9
(sêfer hamisvôt,
M. 120)
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Como obrigação, o mandamento refere-se à Terra de Israel apenas.
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Léquet – Espigas caídas
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Pobres
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Lv 23, 22
(sêfer hamisvôt,
M. 121)
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Como obrigação, o mandamento refere-se à Terra de Israel apenas.
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`Olelôt – Cachos de uva não totalmente desenvolvidos
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Pobres
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Lv 19, 10
(sêfer hamisvôt,
M. 123)
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Como obrigação, o mandamento refere-se à Terra de Israel apenas.
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Péret – Uvas caídas (“bagos”)
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Pobres
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Lv 19, 10
(sêfer hamisvôt,
M. 124)
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Como obrigação, o mandamento refere-se à Terra de Israel apenas.
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Chihekhá – Cereais esquecidos
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Pobres
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Dt 24, 19
(sêfer hamisvôt,
M. 122)
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Como obrigação, o mandamento refere-se à Terra de Israel apenas.
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Sedaqá – Caridade
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Pobres
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Dt 15, 11; lv 25, 35-36
(sêfer hamisvôt,
M. 195)
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Devem-se sustentar os pobres em todas as suas necessidades.
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Constatações:
Das vinte e uma ofertas que enumeramos, nove deveriam ser
entregues ao sacerdote (descendente de Arão), que servia no Templo. Uma deveria
ser dada aos levitas (descendentes de Levi), que ajudavam os sacerdotes, sete
beneficiariam os pobres, órfãos viúvas e outras pessoas vulneráveis, três ofertas
eram comidas pelo próprio ofertante e apenas o “meio siclo” era usado para as despesas do santuário.
A única contribuição dada por todos, pobres e ricos, era o “meio
siclo”, usado para manter as despesas do Templo de Jerusalém (atualmente
inexistente).
Em lugar nenhum de toda a Lei Mosaica existe o conceito de uma
pessoa separar 10% de todas as suas entradas em dinheiro para ajudar nas
despesas de templos religiosos ou sacerdotes. O que havia era uma enorme lista
de dádivas separadas pelo produtor de cereais e criador de gado, para diminuir
a desigualdade social e manter os sacerdotes e levitas, que oficiavam no
serviço religioso pelo povo. O assalariado que não tinha gado nem cereais nem
frutos não estava obrigado a oferecer o “décimo boi de seu gado” como
sacrifício e comer sua carne, assim
como não levaria as primícias, não separaria a terumá guedolá e depois 10% e depois outros 10%!
Essas ofertas são apresentadas por certas denominações cristãs de
forma extremamente simplificada (para falar a verdade, distorcida), como um
dízimo que os israelitas levavam. Nunca existiu tal dízimo, e sim dízimos e outras ofertas, que eram
feitas em um contexto agropecuário, na Terra de Israel, morasse o judeu onde
fosse! O único dízimo que poderia significar dinheiro era o segundo dízimo,
unicamente se o ofertante morasse longe de Israel, para, ao lá chegar, gastar
seu dinheiro em comida e bebidas, como está claro no capítulo 14 de
Deuteronômio.
Os dízimos de que Malaquias falava NÃO ERAM apenas 10% do dinheiro
dados aos líderes religiosos! Os líderes religiosos que pedem 10% do dinheiro
hoje em dia afirmando que estão cumprindo leis bíblicas estão enganando as
pessoas em benefício próprio. Peço que o leitor compartilhe esse estudo com
todas as pessoas que conhece que estão sendo enganadas neste exato momento no
assunto do dízimo.
____________________
¹ Existe um
relato no livro apócrifo (ou deuterocanônico) chamado Tobit que expõe como eram
feitos os dízimos e demais ofertas. Compare com o que é afirmado pela tradição
rabínica e reproduzido em nosso artigo:
“E eu me via
muitas vezes sozinho para ir a Jerusalém por ocasião das festas, conforme
prescrito em todo Israel por um decreto perene. Eu acudia a Jerusalém com as
primícias, os primogênitos, o dízimo do gado e a primeira tosquia das ovelhas e
os dava aos sacerdotes, filhos de Aarão, para o altar. Eu também dava o dízimo
do trigo, do vinho, das azeitonas, das romãs, dos figos e das demais frutas aos
filhos de Levi em serviço em Jerusalém; o segundo dízimo, eu o tributava em
dinheiro e ia apresenta-lo cada ano em Jerusalém. O terceiro, eu o dava aos
órfãos, às viúvas e aos estrangeiros que residiam com os filhos de Israel; eu o
trazia e lho dava de três em três anos, e nós o comíamos de acordo com a
prescrição dada a este respeito na Lei de Moisés e as instruções dadas por
Debora, mãe de Ananiel nosso pai (...)”
Bíblia TEB,
Tobit 1, 6-8
² Para
compreender o sistema de transliteração de termos hebraicos que usamos, leia o
artigo: http://biblia-hebraica.blogspot.com.br/2015/02/sobre-transliteracao.html
CH, por
exemplo, deve ser lido COMO EM PORTUGUÊS, chá, por exemplo, e não como em
alemão.
³ Sêfer hamisvot
(“livro dos mandamentos”) é uma obra escrita pelo filósofo, médico e grande
rabino Moisés Maimônides (1135 -1204). O livro separa e dá uma pequena
explicação para os 613 mandamentos da Torá (Lei de Moisés), usando como fontes
o Talmud e midrachim. Pode ser encontrado em português, na editora e livraria
sêfer. Nas citações ao sêfer hamitzvot, “M” significa Mandamento, e P,
Proibição. Não atribuímos aqui qualquer caráter de “cânon” a esse livro. Apenas
o usamos como forma de organizar os mandamentos da Torá.
Contribuiu bastante, parabéns!
ResponderExcluirGostei muito isto mesmo Cristo nunca deu nem mandou dar dízimos.
ResponderExcluirLeia Mateus 23.23 e verás que Ele o mestre dos mestres ensinou sim
ExcluirBaruch Hashem
ResponderExcluirAGRADEÇO ESSA EXPLICAÇÃO QUE SÓ CORROBORA PARA ESCLARECER A FALACIA CONTADA PELOS RELIGIOSOS ATUAIS SEI QUE TODA REGRA TEM EXCEÇÕES QUE SÃO RARAS.
ResponderExcluirSHALOM.
MAKTUB.
AUTRUISTA7;
AGRADEÇO ESSA EXPLICAÇÃO QUE SÓ CORROBORA PARA ESCLARECER A FALACIA CONTADA PELOS RELIGIOSOS ATUAIS SEI QUE TODA REGRA TEM EXCEÇÕES QUE SÃO RARAS.
ResponderExcluirSHALOM.
MAKTUB.
AUTRUISTA7;