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Usar midrachim para validar o Novo Testamento?



Usar midrachim¹ para validar o Novo Testamento?

            O judaísmo tradicional e os cristianismos possuem diferenças irreconciliáveis. Qualquer pessoa que afirme que “é tudo a mesma coisa” não pode ser levada a sério. Isso ocorre porque o judaísmo se baseia num livro ou em livros: a Torá e a literatura talmúdica. Os cristianismos (Catolicismo, Protestantismos e outras religiões cristãs que não aceitam esses rótulos) também se baseiam em um livro: o Novo Testamento. Para QUALQUER pessoa que aceite a mensagem de Jesus ou Yeshua – ou qualquer outra transliteração ou tradução desse nome –, a mensagem central de Deus para este mundo é o evangelho de salvação, e não a Torá (Lei), independentemente de ter ela sido anulada ou não. Não há como juntar essas duas formas de ver o mundo! Juntá-las é criar um Frankenstein, um monstro.
            É impossível unir uma fé num Deus transcendental² a que jamais se pode associar uma imagem à mensagem de que Jesus é a imagem de Deus, e talvez o mesmo Deus. Não se pode crer ao mesmo tempo na responsabilidade intransferível da responsabilidade pelas ações humanas e no sacrifício humano vicário de Jesus. Não “dão no mesmo” um messias político e um “filho de Deus”. São muitas as diferenças, realmente não dá para unir as duas coisas. São como água e óleo, ou água e fogo. 
            No entanto, há quem tente unir esses elementos em uma só criação. E qual é o processo através do qual fazem a maravilha alquímica? Usam o caminho mais fácil: pegam no Novo Testamento o que há de judaico, e com esses argumentos, repetem como o novo chemá’: “viu? Esse é um livro judaico!!!”. Ora, TODO SANTO MUNDO sabe que o Novo Testamento está repleto de motivos judaicos! Não é nenhum mistério. Há referências ao Templo, ao talit, às festas, aos sacerdotes, várias histórias acontecem na Terra de Israel, entre judeus, “messias”, “Davi” e “Abraão” estão entre as primeiras palavras do livro, e “amém” entre as últimas. Vemos entre os sermões de Jesus várias máximas sapienciais semelhantes a ensinamentos dos mestres fariseus. É um livro cheio de coisas judaicas. Quem vai negar isso? Mas a grande pergunta é: E DAÍ que é um livro judaico?
            O Alcorão também tem motivos judaicos! Noé, Abraão, Moisés, Arão, Davi, Isaac, todos esses figuram nas páginas do Alcorão. O livro começa com um louvor ao Deus único, que julga os humanos e sua última surata encerra uma afirmação humana na confiança em Deus, o Rei dos humanos! Ora, isso não é judaísmo também? Mas não precisamos apelar para o Alcorão, escrito por um não-judeu, já que dizem que o Novo Testamento foi escrito por judeus. Em livros escritos DENTRO do judaísmo há coisas consideradas erradas! Existe um livro judaico chamado Chi`ur Qomá, que trata de nada menos que as MEDIDAS DE TAMANHO DE DEUS, o que é blasfêmia do ponto de vista do judaísmo ortodoxo! Ou seja: o fato de haver motivos judaicos ou mesmo uma autoria judaica em um livro só nos mostra que o autor dos textos tinha conhecimentos de coisas judaicas. Não prova que o livro está alinhado com o judaísmo tradicional. Isso deve estar claro.
            Após essa introdução, vamos ao ponto central. Eu já tive a oportunidade de assistir, através do Youtube, a alguns debates entre judeus tradicionais e judeus crentes na mensagem cristã da salvação por Jesus que não abandonaram práticas judaicas. Estes últimos têm uma tendência a citar, além do que foi dito sobre a judaicidade do Novo Testamento, fragmentos da literatura judaica que parecem validar as crenças cristãs contrárias ao judaísmo tradicional. Essa é a grande arma dos messiânicos. Pegam essas michnaiôt aqui, tiradas de um artigo messiânico traduzido, aqueles midrachim ali, vindos dos poucos livros judaicos em português, temperam com uma pitadinha da cabala, e PRONTO! está provado que não é errado para um judeu fiel à Torá crer na carta aos Tessalonicenses e no evangelho de Marcos! 
            Será que estamos lidando com um argumento válido? Em um dos vídeos que eu vi, inclusive trechos das orações judaicas e operações matemáticas de guematria com o nome de Jesus foram usados como argumentos de que está tudo bem para um judeu aceitar a mensagem cristã! Vamos questionar:

1-     É correto usar trechos de obras isolados, sem conhecer nada das mesmas profundamente?
2-     Por que “judeus-cristãos”³ citam textos cabalísticos como provas, já que a literatura cabalística envolve magia, astrologia, crenças como reencarnação, superstições etc., que, convenhamos, NÃO SOAM BEM, para dizer o mínimo, aos ouvidos deles? Pode-se citar como autoridade o que se considera inadequado?
3-     Que sentido faz citar a oração de judeus não-crentes em Jesus, por eles composta, como prova de que Jesus é o messias?
4-     Sabemos que, com TANTAS técnicas de guematria que existe, eu posso fazer agora mesmo uma revelação “sagrada” sobre Dilma Rousseff, comparando-a a alguma coisa da Torá ou do livro de Daniel. Como posso usar algo assim em um debate como evidência?

Está claro que aqui estamos lidando com argumentos muito forçados e absurdos. Mas os judeus-cristãos continuam com esse hábito o tempo todo! Pegam aquele comentário de rodapé da Torá em português e “viu? Na literatura judaica há citação a uma pessoa ser expiação por outras!”! A literatura judaica, leitor, é imensa. Estamos falando de mais de 3000 anos de escrita! Temos a Bíblia e seus comentários, a Michná e os Talmudim e seus comentários e os comentários dos comentários, os midrachim e suas compilações, o Michnê Torá e seus comentários, O Chulhan `Arukh e seus comentários, suas abreviações e seus comentários, isso pra nem começar a falar das obras de filosofia, cabala e ética/moral! Será que pode ser um argumento válido usar o que pode chegar traduzido a nossas mãos desses textos e usar como argumentos, dizendo que o próprio povo judeu, guardião desses textos, não entende o que eles querem dizer? Mais uma vez, é muito forçar a barra!
Existe algo que precisa ser dito para o público, sobre midrachim. Na literatura judaica, temos vários “tipos”: destacam-se as obras de lei (halakhá), que tratam do que é dever para o judeu, e as lendas e tradições (hagadá) que estão no Talmud e que podem até ser “saltadas” sem prejuízo para a vida judaica de ninguém. O rabino Mochê ben Nahman, mais conhecido como Nahmânides ou RAMBAN (1194-1270), comparou os midrachim a sermões ditos por religiosos quaisquer, e é dele a afirmação de que não é de nenhum modo necessário acreditar nesses textos. Moisés Maimônides foi além, e chamou as pessoas que entendem midrachim de modo literal de “ignorantes” e pessoas que não têm o intelecto saudável.
O que é, então, um midrach? Como podem esses sábios “diminuírem” a importância de uma literatura que parece ter um prestígio tão grande no judaísmo? Na verdade, os midrachim não são pensados para parecerem literais e verossímeis. São, por assim dizer, “brincadeiras” com o sentido de textos bíblicos. Meios engenhosos para interpretar a Torá. Frequentemente há diversos midrachim CONFLITANTES sobre um mesmo texto da Torá, o que mostra que não são literais. Por exemplo: o Talmud faz-nos saber que os sábios estavam discutindo sobre o motivo pelo qual a Torá diz que “subiu a rã” e não “subiram as rãs” em Êxodo 8, 6. Rabi El`azar disse que subiu apenas uma rã, que procriou e gerou muitíssimas outras. Rabi `Aquiba disse que era apenas uma rã sobre todo o Egito, o que nos leva a crer que era uma rã gigante. O Talmud registra a reação de R. El`azar ben Azaria: “`Aquiba, o que você tem a ver com hagadá? Cesse suas palavras e devote-se ao estudo de ‘leprosos’ e ‘tendas’!”!
Impressionante, não? O texto nos mostra que os sábios inventavam diversos midrachim, contraditórios, às vezes, e alguns absurdos, não na minha opinião, mas na do próprio rabino El`azar bem Azaria. O midrach requer talento e engenhosidade para explicar uma passagem da Torá através desse tipo de produção.
            A ideia da rã gigante, de R. `Aquiba, não é o único midrach inverossímil na literatura rabínica: existem textos dessa literatura que afirmam, por exemplo, que o monte Sinai, na época da entrega da Torá se ergueu acima da cabeça dos israelitas para forçá-los a aceitar os mandamentos (Chabat 88a) e até mesmo há quem diga que Rebeca, quando casou-se com Isaac, tinha apenas 3 anos de idade (Soferim 1, 1:4)! Imaginem que grande problema moral essa interpretação causa! É necessário deixar claro que é uma interpretação sem o menor sentido, pois lemos que, antes de encontrar Isaac, Rebeca era capaz de tomar suas próprias decisões e até carregava água para dar de beber a camelos.
Concluindo, após o leitor ter adquirido um pouco de conhecimento a respeito de o que é um midrach e qual sua relevância para o judaísmo, eu pergunto: é um argumento válido procurar coisinhas em textos dessa natureza, não obrigatórios e não literais, para validar assuntos contrários às BASES da fé judaica na Torá? O que vale um midrach afirmando que Nadab e Abihu morreram para “expiar os pecados de uma geração” perto do ensinamento do próprio Criador que diz que ninguém paga pelos pecados de outros? Por que essa supervalorização do folclore judaico, ainda mais quando não se aceita o judaísmo tradicional? Qual é o sentido disso?

Observação: a origem do sistema “Pardês” (Pechat-Rêmez-Derach-Sod)
Outros argumentos “judeu-cristãos” clássicos afirmam que há variedades de interpretação no judaísmo e que há quatro formas de interpretar os textos da Torá, a forma literal (Pechat), a alegórica (Rêmez), o midrach (Derach) e a interpretação mística (Sod), formando suas iniciais a palavra “Pardês”. Este último argumento é usado para dizer, por exemplo, que as “profecias messiânicas” ao mesmo tempo se cumpriram antes da época de Yeshua e ao mesmo tempo com ele, porque a diversidade de interpretações permite esse tipo de coisa, além de que as interpretações esquisitas feitas pelos apóstolos são facilmente explicadas como “judaicas”. Muito bem, vamos responder a uma coisa de cada vez.
É verdade que há diversidade de opiniões no judaísmo. O judaísmo está mais voltado à prática dos mandamentos da Torá do que para crenças ou dogmas. O judeu tem a liberdade, por exemplo, de especular sobre a vida após a morte ou sobre a razão por trás de cumprir os preceitos da Torá, já que esses são temas “livres”, não terminados, dentro do judaísmo. Por outro lado, há SIM crenças inegociáveis aceitas pelo povo judeu fiel à Torá. Essas crenças foram compiladas em sistemas diversos, que não se resumem aos treze princípios de Maimônides, que são a expressão mais popular da crença judaica.
De certo modo, pode-se resumir toda a crença do judaísmo em: o Deus único e invisível criou todas as coisas, deu o livre-arbítrio e uma responsabilidade individual e intransferível para o homem e se comunicou posteriormente com ele (através do povo de Israel), dando-lhe a Lei para todo o sempre, sendo que a obediência aos preceitos divinos levam o homem a uma recompensa após a morte e a desobediência torna-o digno de punição. Pronto! É verdade que é pouquíssimo, como qualquer um pode ver. O resto é resto. Mas será que nessas “lacunas de fé” pode-se incluir a crença cristã? Vejamos: a crença cristã diz que a Lei era só por um tempo (Gl 3, 24-25; 4, 4-5; Ef 2, 15 etc.); o que importa no Antigo Testamento é o que os profetas anunciaram: o messias, que seria o filho de Deus, esse sim, o salvador do mundo. Veio para mudar algumas coisas na Lei, era o próprio Deus ou divino, de alguma forma e se sacrificou no lugar das pessoas, sendo que toda a humanidade precisa exercer fé em seu sacrifício substitutivo, sob pena de perder a salvação. É sério que alguém tenta harmonizar dois sistemas tão diferentes?
Não é possível negociar as crenças fundamentais do judaísmo. Elas são incompatíveis com o que o cristianismo ensina! Passemos ao Pardês: esse sistema de interpretações é universalmente aceito no judaísmo? Qual sua origem? Uma pesquisa em fontes judaicas vai nos mostrar que esse sistema de interpretação só veio surgir na Idade Média, nos escritos de R. Bahia ben Acher de Zaragoza (1291) e no Zohar, livro mais popular da Cabala. A Jewish Encyclopedia afirma inclusive que provavelmente a origem do sistema quádruplo de exegese é cristã (havia um sistema de exegese que falava em interpretação literal, moral, alegórica e mística)!  Dá pra mensurar o nível de absurdo que é alguém dizer que os apóstolos usaram interpretação “rêmez” ou “sod” para interpretar o Tanakh?.

Concluímos com a citação da "Jewish encyclopedia", sobre os "quatro níveis":


    Contemporaneamente com esses começos da Cabala no norte da Espanha, surgiu outro tipo de misticismo relacionado às Escrituras na Alemanha, nos escritos de Eleazar b. Judá de Worms. Seu método exegético consiste no intercâmbio e combinação das letras do texto bíblico e no cálculo do seu valor numérico (Gematria). O método exegetico A exegese cabalística é reconhecida, juntamente com os outros métodos de exegese, no comentário do Pentateuco de Baḥia ben Asher de Saragossa (1291), que se tornou uma das obras exegéticas mais populares. Quatro métodos de exegese são enumerados na introdução deste comentário, cada um dos quais deve ser aplicado às passagens das Escrituras: (1) o caminho do Peshaṭ, (2) o caminho do Midrash, (3) o caminho da Razão ( isto é, exegese filosófica), e (4) o caminho da Cabala, "sobre o qual a luz habita, um caminho para a alma que se recusa a ser iluminado pela luz da vida". Contemporaneamente com o comentário do Pentateuco de Baḥia, também apareceu na Espanha um livro que se destinava a tornar-se o trabalho básico da Cabala e que devia seu sucesso sem precedentes ao fato de que pretendia ser uma relíquia do misticismo mais antigo e uma obra da mesma escola de sábios que produziu as antigas obras tradicionais, Mishná, Talmud e Midrash. Este livro é o Zohar, com sua forma de um comentário midráshico sobre o Pentateuco, mas interrompido por várias digressões diversas e complementado por adições originais. Como o livro de Baḥia b. Asher, mas sobre uma base diferente, o Zohar também assume quatro tipos de exegese, ou melhor, um significado quádruplo: Peshaṭ, Remez (alusão, sentido tipológico, alegoria), Derash e Sod (sentido secreto e místico). Ao formular esta doutrina de um significado quádruplo, o modo de exegese cristão (que era bem conhecido dos judeus espanhóis) provavelmente serviu de modelo; Nesse sentido, o sentido quádruplo (histórico ou literal, tropológico ou moral, alegórico e anagógico) já foi formulado há muito tempo (pelo Venerável Bede no oitavo e por Rhabanus Maurus no século IX). As letras iniciais das palavras Peshaṭ, Remez, Derash e Sod formam a palavra "Pardes" e tornaram-se a designação de um significado quádruplo, no qual o sentido místico dado na Cabala era o ponto mais alto. O princípio do significado quádruplo e sua designação, "Pardes", foram erroneamente atribuídos ao início da exegese da Bíblia judaica, o período tanaíta, por conta da expressão "Pardes" (jardim de prazer), que é usado metaforicamente em um relato do misticismo dos Tanaítas (Ḥag. 14b)

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¹ Nesta página, transliteramos a letra שׁ como “ch”, ח como h e כ como kh.

² Leia, para um maior esclarecimento sobre as diferenças irreconciliáveis entre Antigo e Novo Testamentos o nosso artigo Bíblia: um livro de dois testamentos?
http://biblia-hebraica.blogspot.com.br/2016/02/biblia-um-livro-de-dois-testamentos.html

³ Que ninguém se ofenda. Aqui, o termo apenas significa “judeu que professa fé nos ensinamentos de Jesus/Yeshua”.

Leia a citação a Nahmâmides e uma excelente explicação do que é midrach e agadá, neste artigo, por Sha’ul Bensiion:


Acima, idem.         

Tamud Bavli, Sanhedrin 67b. Você pode conferir em: http://www.come-and-hear.com/sanhedrin/sanhedrin_67.html (inglês)
http://www.jewishencyclopedia.com/articles/3263-bible-exegesis

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