Porção semanal מִקֵּץ (ao fim) – Gn 41,1 a 44,17
Na porção desta semana, a narrativa de José passa por uma grande reviravolta, de modo que, de um escravo em um calabouço, tornou-se governador (vice-rei) do Egito, por ter decifrado sonhos preocupantes que o Faraó teve, e ainda dado conselhos a este sobre como proceder para resolver uma pesada crise de alimentos. Vamos dar uma olhadinha no versículo 46 de Gn 41:
VOCABULÁRIO:
Substantivos |
Iossêf יוֹסֵף = José; chaná שָׁנָה = ano; Par`ô פַּרְעֹה = Faraó; mêlekh מֶלֶךְ = rei Mitsráiim מִצְרָיִם = Egito; בֶּן Ben = filho de |
Preposições |
Lifnê לִפְנֵי = diante de |
Verbos |
La`amôd לַעֲמוֹד = permanecer, estar de pé; La`avôr לַעֲבוֹר = atravessar, passar Latsê’t לָצֵאת = sair |
Com certeza você percebeu que a preposição “de”, apesar de ter sido acrescentada na tradução, não corresponde a nenhuma palavra no texto hebraico. No hebraico bíblico, a relação de dependência expressa por essa preposição (ex.: espada DE ferro, filho DE Davi...) é construída por pequenas modificações nos substantivos. Por exemplo, Casa se diz báiit (בָּיִת), mas “casa de Davi” se diz bet David (דָּוִד בֵּית). Dizemos que o “estado construto” de Báiit é bêt.
É importante não passar em branco também a forma única que tem o hebraico para dizermos nossa idade: em hebraico você não vai dizer “eu tenho trinta anos” nem, como seria no inglês, I am thirty years old (“eu sou trinta anos velho”, ao pé da letra), mas sim “ani ben chelochim chaná”, que significa literalmente “eu sou filho de trinta anos”! Ou melhor “trinta ano”, porque a palavra chaná, ano, fica no singular. Uma curiosidade de passagem: na festa do Roch haChaná, conhecida como “ano novo judaico”, celebrada geralmente em setembro (o calendário judaico é bem diferente do nosso, segue a lua e o sol), o cumprimento tradicional é “chaná tová”: bom ano.
Perceba que aprender uma língua é entrar em um contexto cultural totalmente diferente, sendo importante que você esteja aberto à novidade e à curiosidade. Tradução ao pé da letra não funciona. Se pegarmos um texto MODERNO em inglês e jogarmos num robô do tipo “Google tradutor”, perceberemos que o resultado não será satisfatório, porque a inteligência artificial não capta essas sutilezas idiomáticas. Agora imagine do hebraico antigo para o português moderno! Na verdade, todas as traduções da Bíblia são reduções que perdem MUITO dos sentidos do texto original. O que não significa que as traduções são ruins.
Voltando ao relato de José e concluindo: sabemos que José é um personagem adorado pelas pessoas que gostam de mensagens bíblicas de “promessas de prosperidade” e coisas sobre “planos de Deus para nossas vidas”. São incontáveis as músicas religiosas que lembram que você pode “passar de prisioneiro a governador”. A parte que não percebem é que, quando fazemos os cálculos, José passou algo como DOZE ANOS em condições terríveis! Será que essas pessoas teriam paciência de esperar esse tempo? Será que elas têm a visão de José, sua capacidade de perdoar os irmãos que o trataram tão mal, como veremos adiante? A história de José não foi uma biografia de milionário com tempero de “revelações de Deus”, foi uma história de erros, visão, trabalho, dons, de muito sofrimento e, sobretudo, de perdão e de aprender com as adversidades.
Muito bom. Lendo o final do artigo falando sobre a forma como a passagem de José é usada, de fato as pessoas não sabem o que falam mesmo.
ResponderExcluirFalar é fácil, viver o processo ai é outra história, e essa parte ninguém quer.